quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

OCUPA BOREL, Resistência e Alegria.

OCUPA BOREL, Resistência e Alegria.

Publicado em 6 de Dezembro de 2012
*Por Chico Motta
Fonte: http://www.virusplanetario.net/ocupa-borel-resistencia-e-alegria/



Eu moro na Tijuca, na Rua São Miguel
O morro mais bonito é o morro do Borel
No bairro da Tijuca, no morro do Borel
Aqui tem quem luta, quem faz seu papel”
Funk do Borel

Cheguei tarde, por volta de 22:30, e me disseram que as pessoas tinham ido para o “Terreirão”. Perguntei se havia muita gente, responderam que tava que era para mais de mil, abri um sorriso no rosto.
O protesto marcado para ocorrer na rua São Miguel, resolveu subir o morro, entrou no meio desse espaço vivo e presente que é o lugar deles, que é o motivo daquela luta, rompendo com uma estigma – marco simbólico da reapropriação do próprio território.
O morro como dentro, como o eu, atravessado de histórias e vidas que fazem dele o que é, não mais um outro, que impõe e submete a vida dos moradores, não mais o que vem de fora como regra, mas sim de dentro como potência livre e pulsante, era multidão. “O morro é nosso” , escutei de um menino que devia ter por volta de onze anos.
Era a primeira vez que subia o Borel e me impressionou o número excessivo de policiais. “É por causa do protesto” me informou um morador, “eles estão apreensivos com a mobilização da comunidade”.
Chegando no “Terreirão” havia cerca de 500 pessoas, jovens, adultos, mães e pais com os filhos, moleques alegres que escalavam os muros e a assistiam a tudo do alto. Uma moradora radiante e carismática discursava ao microfone que era só emoção. No rosto das pessoas se notava o orgulho, felicidade. Contra as últimas ações abusivas e repressoras, responderam com festa, música e alegria. A afirmação do que eram, e que ninguém de querer iria lhes tirar.
Na semana anterior o plantão da UPP havia passado de qualquer limite, impôs toque de recolher às 21hrs, ameaçou quem quer que mantivesse estabelecimentos abertos, agrediu física e verbalmente pessoas, submetendo-os a uma violência doentia. Não era a primeira vez que tais abusos ocorriam, denúncias se multiplicam, em especial com relação a policiais de dois dos plantões da comunidade. “Tem certos policiais que não conseguimos nem olhar no olho que a gente treme”, disse-me uma moradora.
Não se tratava ali, é importante ressaltar, de querer a saída da polícia, mas pelo contrário, que se esteja como servidora daquela população. O que não dá é para trocar de mãos as armas e a opressão continuar. O estado tem que servir aos moradores, não os oprimir.
Em carta aberta dos manifestantes, enviada ao Capitão Amaral comandante da UPP, foram elencados os pontos positivos e negativos que a instalação da unidade trouxe. Entre os positivos destacaram o fim das incursões violentas do “caveirão” que gerava pânico e medo na população; a diminuição dos homicídios conseqüente do fim dos conflitos entre traficantes e policiais; e pequenas melhorias no desenvolvimento humano por conta de cursos e outras iniciativas que se estabeleceram na comunidade. Como pontos negativos, ressaltaram os abusos reiterados cometidos por policiais, o fato de o disque-denúncia não funcionar de maneira satisfatória, o toque de recolher e o impedimento de circular livremente pelo morro. Pediram o afastamento dos policiais envolvidos nos abusos para tratamento psicológico, pois entendem que não deve ocorrer de serem transferidos e continuarem praticando abusos em outras Unidades.
O Ocupa Borel foi um marco, uma quebra de paradigma de uma comunidade que se sentia acuada. “Era como se estivéssemos engasgados e derrepente conseguimos falar”. Com cartazes escrito “Sou morador e quero respeito” e “Ocupa Borel” estão reescrevendo a sua própria história.
Ao final, se perguntava entre as pessoas quando seria o próximo. Informaram que outras comunidades já se articulam para realizar manifestações semelhantes. “Ta rolando um Ocupa Alemão, e deve sair o Ocupa Maré, acho que esse movimento vai virar Ocupa Favelas”, disse otimista a moradora.
*O nome dos moradores foram omitidos para não expor a segurança dos mesmos.